A LIÇÃO DO PARDALZINHO
A sineta soa com força, meio-dia. Os meninos, com os rostos cobertos de suor, correm para a fila. No pátio, os professores tentam organizar as turmas para a oração de costume. Inicia-se a reza, mas de repente, os alunos emudecem, causando estranheza. Diante dos alunos os professores tentam continuar a oração, ora seguidos pelos alunos, ora sozinhos; sem descobrir até então o que estava causando aquela interrupção repentina; olhos fitos em determinado ponto do teto, os meninos prendiam a respiração e esqueciam a oração ou pronunciavam palavras desconexas. A impressão que se tinha é que os pequenos, naquele momento solene, tivessem sido agraciados com uma visão celeste.
Mas não era nada disso. Numa minúscula fenda, parecendo uma janelinha, um filhote de pardal, cujo ninho estava por perto, resolveu oferecer um show de graça para a gurizada. Mal começou o Pai-Nosso, o pardalzinho apareceu em sua janelinha, abriu o biquinho, agitando as azinhas, saudou os alunos e se escondeu; apareceu de novo, repetiu a cena diversas vezes o que causava verdadeiro delírio. A oração terminou, mas difícil mesmo foi levar a turma para a sala de aula. Já sabiam até quem era o pai do pardalzinho; o apontavam no meio de dezenas de pardais.
De tudo isso parece ter ficado uma grande lição. Às vezes, as preocupações do dia-a-dia não nos deixa perceber as belezas que nos cercam; as crianças interagindo com a natureza, esquecem até da oração, que aliás, talvez ao contemplar as brincadeiras do filhotinho, extasiados, estivessem bem perto de Deus. Ele roubou a cena, mas no fundo quis ensinar uma incrível lição: com sua simplicidade conseguiu a façanha de prender a atenção de uma grande platéia, o que às vezes não se consegue com o mais erudito discurso. Valeu, pardalzinho.
“Cenas do cotidiano”
Geraldo Mendes Paiva
E. E. Dom Bosco - 2003
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